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Foto do escritorAapot

Doação de órgãos: um assunto que deve ser abordado com as crianças

Alunos da emef Guilherme Hildebrand, no Progresso, participam de workshop com assistente social da Aapot


A passagem da vida para a morte é cercada de tabus e mistérios. Falar do assunto com as crianças tira o sono de educadores e pais. Mas a doação de órgãos ensina que a morte de uma pessoa pode ser a salvação de ao menos dez outras, através dos transplantes. Para desmistificar o procedimento e levar mais informações, a Associação de assistência a pacientes oncológicos e transplantados (Aapot), de Santa Cruz do Sul, foi para dentro da sala de aula no início de abril.

 

“Estamos falando para crianças e adolescentes porque acreditamos que eles conseguem sensibilizar bem mais as famílias quanto à importância da doação”, destaca a palestrante e assistente social da Aapot, Marliza Pereira Lopes. “A gente sabe que no Brasil ainda são poucas as pessoas que doam órgãos.” No País, a cada quatro potenciais doadores, somente um doa. É o que mostra o Sistema Nacional de Transplantes, do Ministério da Saúde. Não importa a formalização do desejo em vida, os familiares é que deliberam no momento crucial.

 

No bairro Progresso, alunos do 4 ao 9º ano, da Escola Guilherme Hildebrand, participaram de atividades formativas no III Workshop de promoção de saúde e prevenção na escola, como parte do Programa Saúde da escola (PSE), do governo federal. Antropometria, quintal da dengue, hábitos saudáveis, saúde ambiental, alimentação saudável, teste de visão, gerenciamento de emoções e cultura bucal foram assuntos trabalhados pela equipe escolar. O bate-papo sobre a doação de órgãos instigou a curiosidade dos estudantes, que puderem ter suas mais diversas questões, respondidas.

 

“Eles já tem um entendimento sobre vida e morte. O assunto morte foi trabalhando há pouco na escola, após uma professora perder uma filha para a Covid-19”, destaca a vice-diretora da emef Hildebrand, Eliana Inês Frantz. “Temos 320 alunos no colégio a iniciativa de promover o workshop foi atender à demanda do PSE que ocorria ao longo de todo o ano e agora ficou concentrada em um único dia.”

 


Coração e morte cerebral

 

A assistente social da Aapot, Marliza Pereira Lopes conta que a principal dúvida que surgiu entre os jovens entre 9 e 14 anos foi em relação à morte cerebral. “Eles confundem parar o coração com a morte cerebral. Morte cerebral é quando não tem mais nenhum fluído sanguíneo no cérebro”, explica Marlisa. “Tive que informar que o restante dos órgãos continuam funcionantes. Para a retirada, coração, pulmões, fígado e rins devem ser mantidos para que a equipe médica proceda o transplante para outra pessoa.”

 

Todo tipo de dúvidas surgem em sala de aula. É preciso abordar sem medo. Questões religiosas sobre a separação corpo e espírito apareceram na conversa com a gurizada, bem como, o temor do roubo de órgãos. “Existe uma série de protocolos médicos e legais antes de se realizar o procedimento. Falamos sobre isso e sobre a importância da ciência para salvar vidas através dos transplantes”, ressalta Marliza. “O coração, por exemplo, só vai ficar funcionando porque tem uma medicação conservando o órgão para que chegue no receptor a tempo e em condições.”

 


Protocolos

 

Conforme a Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul, para caracterizar a morte encefálica do ponto de vista médico e legal são necessários vários passos (um protocolo). Esse protocolo é estabelecido por lei e são realizados vários exames do doente por ao menos dois médicos, além de um exame de documentação da morte, chamado exame complementar. Quando a morte encefálica é constatada, ela deverá ser notificada à Central de Transplantes, que é um órgão do Governo do Estado, para registro e acompanhamento legal da situação, até a confirmação do diagnóstico e a possível doação dos órgãos e tecidos para transplantes. O protocolo da morte encefálica (ME) foi estabelecido através da Lei 9.434 e encontra-se disponível no site www.saude.rs.gov.brhttps://saude.rs.gov.br/upload/arquivos/carga20190946/11144611-cartilha-do-doador.pdf

 


Recorde histórico

 

Conforme o Ministério da Saúde, o Brasil realizou mais de 6,7 mil transplantes entre janeiro e setembro de 2023. Esse foi o melhor resultado dos últimos 10 anos. Em 2022, no mesmo período, foram pouco mais de 6 mil procedimentos. O número de doadores também aumentou: 17% na comparação com 2022. Foram mais de 3 mil doações efetivadas. Conforme a Agência Brasil,  o rim é o órgão mais transplantado com quase 67% dos procedimentos. Na sequência aparecem o fígado e o coração. Segundo o Ministério da Saúde, atualmente, mais de 41 mil pessoas esperam por um transplante de órgãos no país.

 


Como garantir a doação

 

Não é preciso registrar a intenção de ser doador em cartórios, nem informar em documentos o desejo de doar, mas sua família precisa saber sobre o seu desejo de se tornar um doador após a morte, para que possa autorizar a efetivação da doação. Depois da confirmação da morte encefálica a família é entrevistada por uma equipe de profissionais de saúde, para informar sobre o processo de doação e transplantes e solicitar o consentimento para a doação.

 

Após a manifestação do desejo da família em doar os órgãos do parente, a equipe de saúde realiza outra parte da entrevista, que contempla a investigação do histórico clínico do possível doador. Doenças crônicas como diabetes, infecções ou mesmo uso de drogas injetáveis podem  comprometer o órgão que seria doado, inviabilizando o transplante.

 

De acordo com a Agência Brasil, quase metade das famílias se recusa a doar órgãos de pacientes. Já a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) aponta que a maioria dos órgãos oferecidos aos estados para transplante não foi aproveitada por causas diversas.  https://revistapesquisa.fapesp.br/maioria-dos-orgaos-oferecidos-aos-estados-para-transplante-nao-foi-aproveitada/


Fontes:


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